Item de rotina das pessoas que menstruam, absorvente deve ser usado corretamente para evitar infecções, diz ginecologista

8 de fevereiro de 2023 - 09:09 # # #

Repórter: Diana Vasconcelos
Artes: Letícia Maria

O absorvente é algo quase indispensável na rotina da maioria das pessoas que menstruam e estão em idade reprodutiva, ou seja, entre a puberdade e antes da menopausa. Isso porque a cada 28 dias, em média, o organismo precisa expelir o sangue menstrual. Portanto, é importante entender sobre o uso correto do item, conhecer seus impactos na saúde e as alternativas possíveis. O ginecologista e obstetra Francisco Nogueira Chaves, coordenador do Ambulatório de Endometriose do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), explica sobre a composição e a melhor forma de usar cada tipo.

O absorvente é um item de rotina. Há modelos que necessitem de maior atenção?

Francisco Nogueira Chaves: Basicamente, temos quatro possíveis materiais utilizados para absorver o sangue menstrual. O primeiro é aquele comum, simples, regular, mais conhecido, mais fino e que não deve ser usado por mais de 4 horas. Já o absorvente noturno e os do tipo interno — colocados dentro da vagina — devem ser utilizados até, no máximo, 8 horas. Há também os coletores, uma proposta boa, antiga, que vem melhorando muito e é reutilizável.

Como se classifica o protetor diário?

Francisco Nogueira Chaves: É também um tipo de absorvente, mas absorve volumes pequenos, ideal para o fim ou o início da menstruação. Esse talvez seja o modelo utilizado de forma mais inadequada. É comum as pessoas colocarem para não sujar a roupa íntima. Isso não é recomendado, pois aumenta a temperatura e transforma a área em uma verdadeira estufa, mudando a secreção e aumentando as bactérias vaginais.

Para evitar sujar a roupa e o odor excessivo de secreções, o indicado é trocar a peça íntima por uma limpa. Se for possível, também é recomendada uma limpeza leve da região porque existem secreções produzidas normalmente pelo organismo que, ao acumular e se misturar à urina, podem causar irritação.

Dentre todos os modelos, o absorvente interno é o motivo de maior preocupação para os especialistas. Por quê?

Francisco Nogueira Chaves: A grande preocupação é com o esquecimento. Muitas pessoas não lembram que estão usando o absorvente. Vamos supor que alguém introduz o tampão, vai a uma festa, volta e dorme. O tempo vai passando e isso começa a aumentar os riscos.

E o que esse esquecimento pode causar?

Francisco Nogueira Chaves: Inicialmente, pode surgir um odor mais forte, fétido, porque há proliferação de bactérias. Se não forem tomadas providências rapidamente, a situação pode se agravar e caminhar para uma síndrome do choque tóxico, que começa com febre, náuseas e vômitos, até a perda de orientação. Se o paciente ou a paciente não for capaz de lembrar que o absorvente está lá, pode-se pensar que se trata de outra patologia e isso pode atrasar o diagnóstico correto e rápido, resultando, inclusive, em internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Além da proliferação de bactérias, muita gente se queixa de alergias. Há alternativas para esses casos?

Francisco Nogueira Chaves: De fato, algumas alergias podem estar relacionadas ao uso do absorvente descartável, principalmente em quem tem a pele e a mucosa mais sensíveis a fragrâncias, corantes e materiais sintéticos que estão na composição de alguns desses produtos. Caso haja irritação, vermelhidão, coceira na vulva ou outro sintoma, é preciso procurar um especialista. Talvez seja indicado um tratamento, o qual pode ser local ou sistêmico. Porém, o mais importante é mudar o tipo de absorvente usado. Existem alguns que são hipoalergênicos. Ressalto que esses mesmos materiais — fragrâncias, corantes e materiais sintéticos — também podem causar infecções.

O que fazer se a pessoa não deseja mais usar absorventes?

Francisco Nogueira Chaves: A função do absorvente está diretamente ligada ao sangramento. Se a pessoa não quer usar mais, deveria não sangrar mais. Ela pode conversar com seu ginecologista e considerar o uso contínuo de métodos contraceptivos ou DIU para reduzir as chances de sangrar. Mas se ela deseja apenas parar de usar o absorvente, e não de sangrar, pode pensar em outros métodos, como os coletores, que existem desde a década de 30 e exigem um período de adaptação. Uma alternativa também ecológica é o uso de panos, os quais, no entanto, exigem consumo de energia e água na lavagem, mas economizam no uso geral de matérias-primas para fabricação, pois são reutilizáveis como os coletores.

Uma novidade são os absorventes externos e internos biodegradáveis — não agridem o meio ambiente — e produzidos com algodão orgânico, sem material sintético e produtos químicos, então não causam irritação.

Menstruar é um processo natural. Então, o que de fato deve ser uma preocupação?

Francisco Nogueira Chaves: É necessária uma educação para todos, desde cedo, sobre esse período. Não deve ser visto como um problema, mas como o processo natural que é e com o qual é preciso conviver por anos, respeitar e ter a devida compreensão. As pessoas que menstruam já se sentem desconfortáveis só pelo uso do absorvente. E nós enquanto sociedade não precisamos fazê-las se sentir constrangidas.